sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Free jazz e hard bop memoráveis

Luiz Orlando Carneiro

No embalo do Tim Festival, a EMI do Brasil lançou o novo CD do excelente saxofonista italiano Stefano Di Battista, Trouble shootin' (de abril deste ano). E também a reedição (remasterizada por Rudy Van Gelder) de Conquistador, um dos mais marcantes álbuns do pianista-compositor (ou compositor-pianista) Cecil Taylor, gravado para a Blue Note em 1966, quando o free jazz ainda era efervescente novidade. No festival, realizado no Rio e em São Paulo, há 12 dias, Di Battista teve merecido sucesso de público e de crítica à frente de seu incandescente quarteto hard bop, com Baptiste Trotignon (Hammond B-3), Fabrizio Bosso (trompete) e Greg Hutchinson (bateria).

Já o lendário Cecil Taylor, 74 anos, ignorou a audiência e tocou para si mesmo uma série daquelas ruminações politonais, policromáticas e polirrítimicas de que já se cansaram até os minoritários apóstolos do estilo que Ornette Coleman celebrizou, em 1960, no LP Free Jazz, e John Coltrane glorificou, cinco anos depois, em Ascension.

O CD novinho em folha de Di Battista contém algumas de suas composições que foram interpretadas com paixão e eloqüência no Tim Festival. Tanto pelo líder como por Trotignon e Bosso - um guardião da chama acesa por Lee Morgan e alimentada por Woody Shaw. Mas as versões em disco de Under her spell (4m56) e de Alexander Platz blues (3m58), por exemplo, não têm a combustão e a espontaneidade que marcaram a noite européia do festival. O mesmo pode-se dizer das versões de The Jody grind (Horace Silver) e This here (Bobby Timmons), temas básicos da soul food do hard bop da década de 60.

Contudo, The serpent's charm (8m04), uma cativante melodia desenvolvida no CD com a flauta de Nicola Stilo no lugar de Bosso, e Essaouira (5m57), uma peça de sabor balcânico, em 6/8, com o quarteto básico (o baterista é Eric Harland, e não Hutchinson), valem a aquisição do álbum de 11 faixas.

Conquistador (juntamente com Unit structures, também de 1966) é um registro fundamental para os antenados na free thing daquela época. Cecil Taylor é muito mais interessante bem acompanhado, em improvisação coletiva, do que solitário. E seus parceiros nessa reedição - que reúne, além da faixa-título (17m51), duas versões de With(Exit), de 19m17 e 17m21, respectivamente - são os vanguardistas pioneiros Jimmy Lyons (sax alto), Bill Dixon (trompete), Henry Grimes, Alan Silva (baixos), e Andrew Cyrille (bateria).

O segundo take de With (Exit) - até então inédito - é um momento especial do free jazz, safra 1966. Cecil, em permanente transe, é o epicentro do tsunami musical (não indicado para corações e mentes sentimentais) no qual surfam os extraordinários Lyons, Dixon, os baixistas Silva (no arco) e Grimes (em pizzicato).

Como escreveu Bob Blumenthal nas notas do CD, a alternate take de With (Exit) demonstra como esse happening musical ainda é desafiador e mágico, 40 anos depois de documentado.

Fonte: JB Online

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