O crítico e historiador de jazz Stanley Crouch escreveu que "inovadores não são mais - e nem menos - do que indivíduos cuja individualidade exige reinterpretações dramáticas da linguagem corrente". A observação é genérica, de um artigo publicado em 2002. Mas poderia ter sido feita, agora, a propósito do mais recente álbum do formidável pianista McCoy Tyner, intitulado simplesmente Quartet, gravado no clube Yoshi's (Oakland, California), na última noite do ano passado.
O CD marca o retorno aos estúdios de Tyner, depois de um período de saúde abalada (está bem mais magro na foto da capa do disco), e a estréia de seu selo próprio, gerido e distribuído pela Half Note - a etiqueta do clube Blue Note. Seus parceiros são outros jazzmen extraordinários: Joe Lovano (sax tenor), Christian McBride (baixo) e Jeff "Tain" Watts (bateria). Esse dream quartet reinterpreta, sem olhar para o relógio - cada um dos componentes do conjunto expressando livremente suas idéias - seis composições do líder, das quais quatro bem conhecidas dos tynerianos: Passion dance, Blues on the corner e Search for peace, do antológico LP The real McCoy, de abril de 1967, o primeiro para o Blue Note; Walk spirit, talk spirit, de Enlightment (Milestone, gravado em Montreux, em 1973).
É natural que se pergunte por que, quatro décadas depois, McCoy insista em reexaminar temática recorrente em suas apresentações e discografia. Afinal de contas, em The real McCoy - álbum que o consagrou em termos de individualidade, depois de manter durante anos, ao lado de Elvin Jones, o intenso clima rítmico-harmônico do quarteto de John Coltrane - o pianista tinha a seu lado os já cultuados Joe Henderson (sax tenor), Ron Carter (baixo) e Elvin. Ou seja, por que dedicar metade de um disco de 65 minutos ao remake de obras definitivas?
A resposta parece óbvia quando se escuta o novo registro ao vivo do quarteto desse quase septuagenário gigante do jazz. Ele compartilha suas composições em seu piano de alta voltagem percussiva, gerador de intensas ondas melódico-harmônicas, através de arpejos, acordes e clusters contundentes, com músicos excepcionais que o conheceram já como um ícone. Quando Tyner atuou como sideman de Coltrane no monumental A love supreme, em 1964, Lovano era um garoto de 12 anos; Tain Watts tinha apenas quatro; McBride não era nascido.
Nesse álbum lançado em setembro, as reinterpretações da linguagem corrente do jazz são feitas por um quarteto de instrumentistas notáveis que reúne três gerações. A última faixa é uma versão romântica de For all you know (3m), em solo do pianista. É um standard pelo qual tem particular afeto, e que aparece também no aplaudido álbum Land of giants (Telarc), de 2003.
Fonte:JB Online
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