quinta-feira, 31 de julho de 2008

Festival Tudo É Jazz 2008

ENTREVISTA EXCLUSIVA - Dudu Lima
Foto: Cézar Fernandes

Por Leonardo Alcântara (JazzMan!)

Definido pelo guitarrista Stanley Jordan como um dos "melhores contrabaixistas do mundo", Dudu Lima é um dos nomes mais importantes da atual cena instrumental brasileira. Seu senso criativo, aliado a um ouvido produtivo, faz com que o músico seja reconhecido e requisitado para tocar nos principais festivais do Brasil e do Mundo.

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Quem esteve no Rio das Ostras Jazz & Blues Festival viu a apresentação marcante de um artista em puro momento de inspiração, revelando um músico que sabe o que está fazendo. Se há uma definição para a sua música – se é que isso seja possível –, me arrisco a dizer que é "colorida" e reflete com competência a alma e a essência de Minas Gerais, um estado conhecido por sua diversidade geográfica, cultural e racial.

Aliás, Minas Gerais, que sempre revelou personalidades ilustres, como Santos Dumont, Carlos Drummond de Andrade e Pelé, que encantaram o mundo exibindo criatividade e genialidade, hoje pode se orgulhar de Dudu Lima, um mineiro de "mão cheia" que faz da sua arte, sua história. Ou seria o contrário?

Dudu Lima concedeu uma entrevista exclusiva ao blog JazzMan!, onde falou do começo da carreira, da parceria com o guitarrista Stanley Jordan e sua participação no Festival Tudo é Jazz.

JazzMan!: Você começou a tocar baixo acústico muito jovem. O que foi que te influenciou a ponto de despertar o desejo de ser músico?

Dudu Lima: Foi um verdadeiro chamado, pois de repente comecei a apreciar o som do contrabaixo nas músicas. Eu tive sorte de ter em casa pessoas que ouviam sons de qualidade, apesar de não tocarem. Um dia estava assistindo a um show e tive a forte sensação que tinha que tocar o contrabaixo. Comecei tocando o elétrico e em seguida já veio o acústico que sempre me atraiu.Tive a sorte de ter ouvido essa voz bem novo e de obedecê-la e é a mesma voz que me convida até hoje!!! Espero que ela nunca pare de me chamar para esse universo tão especial que é a Música!!! Junto com o meu primeiro contrabaixo ganhei uma fita de vídeo com um show do Jaco Pastorius e isso foi decisivo para o minha visão do contrabaixo como um instrumento de possibilidades ilimitadas. Em seguida conheci Eddie Gomez e Ron Carter o que me trouxe a paixão pelo baixo acústico.

JM: Você já formou grandes parcerias com músicos brasileiros e estrangeiros, além de se apresentar em grandes festivais no Brasil e no mundo. Quais momentos mais significativos você destacaria em sua carreira?

DL: Eu destacaria aquele momento inicial que foi o responsável pelo amor pela música e a vontade de tocar. Ele foi o responsável por todos os outros que vieram.

Dentre esses momentos posteriores já na vida profissional eu destacaria a formação do meu primeiro trio, a convivência com grandes músicos em uma casa de Jazz em Juiz de Fora que é minha terra natal; (essa casa se chamava Jazz Club), a gravação de meu primeiro CD solo (Regina), o encontro com os meus parceiros musicais que são tantos que seria injusto citar nomes, além dos encontros musicais com Hermeto Pascoal que gravou no meu CD Nossa História e do trio com Stanley Jordan e Mamão(Azymuth)

JM: O guitarrista Stanley Jordan disse que você "está entre os melhores contrabaixistas do mundo". Como surgiu essa parceria?

DL: Eu comecei a tocar com o Stanley em 2001 no Visa Jazz Festival na cidade de Búzios. Ele veio tocar no festival e queria uma banda brasileira. O produtor Mauro Afonso (produtor musical que atua no Rio) encaminhou meu material para o Stanley e depois veio a notícia de que eu tinha sido escolhido.

Já no primeiro encontro para os ensaios que fizemos em Búzios a energia foi mágica e o som fluiu de uma forma maravilhosa. Assim, vieram as outras tours e hoje já fizemos nesses 7 anos quase 130 shows em altíssimo astral.

O Stanley é uma pessoa maravilhosa além de ser um músico genial e eu fico muito feliz com essa amizade e relação musical que temos. Ele participou do meu último CD e DVD ao vivo e eu e o Mamão participamos de seu novo CD que foi lançado esse ano nos EUA.

JM: Durante seu show no Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, reparamos algo em comum com Stanley Jordan: a maneira percutida de tocar baixo, assim como ele faz com a guitarra. Fale-nos um pouco dessa técnica.

DL: Essa técnica é o tapping onde tocamos o instrumento de forma bem percussiva e o Stanley teve o mérito de codificá-la para o jazz de uma forma ímpar. Eu já era pesquisador do uso do tapping no contrabaixo e com esse contato tive a oportunidade de entrar nesse universo do Stanley de perto e isso me influenciou de uma forma muito forte. Aí tive a idéia de também utilizar o tapping no contrabaixo acústico o que gerou uma sonoridade bem interessante. Sem dúvida o uso do tapping gera outras possibilidades a nível de fraseado e de desenhos rítmicos o que enriqueceu muito as sonoridades que exploro.

JM: Você está para lançar o CD/DVD "Ouro de Minas", com composições de Milton Nascimento e João Bosco. Quais as diferenças que você enxerga entre esse novo álbum e os anteriores? Qual a importância desses compositores para sua carreira?

DL: A influência e importância desses compositores é muito grande, pois além do fato de ser mineiro sou fã da música mineira e ela me acompanha desde a infância. Ano passado, quando estava finalizando o CD e DVD 20 anos de pura música ,onde gravei "Clube da Esquina 2", eu percebi a grande quantidade de músicas mineiras que fazem parte do meu repertório de shows e visualizei este novo projeto, o qual batizei de "Ouro de Minas", pois verifiquei que isso era ouro puro e me dediquei a selecionar as músicas para o trabalho.Como tinha várias leituras para músicas do João Bosco resolvi convidá-lo para participar do CD e DVD e o resultado foi maravilhoso. O João Bosco é um músico da pesadíssima e nos brindou com uma participação genial na faixa "O Ronco da Cuíca". Em seguida selecionei músicas de outro gênio que é o Milton Nascimento, além da belíssima "Nascente" de outro grande compositor mineiro que é o Flávio Venturini. Além dessas músicas inclui 2 autorais inéditas e uma parceria minha com o Ricardo Itaborahy que é o pianista do meu trio e um grande parceiro musical.

A diferença desse material para o anterior é o formato que gravamos que foi ao vivo, porém sem público, já que o CD e DVD anterior foi gravado ao vivo e com público. E é claro que o momento diferencia os trabalhos já que a música que fazemos é espontânea e corresponde ao pensamento atual e com todas as idéias e inspiração que o cercam.

JM : Nos últimos anos, tem havido um grande debate a respeito da questão de direitos autorais, principalmente no que tange ao compartilhamento de músicas na internet. Enquanto artista de música instrumental, você acredita que isso ajuda ou atrapalha?

DL: Eu acho que a internet ajuda enquanto veículo de democratização do acesso às obras de todo o universo musical mundial. O que ainda não encontramos é a forma de controle pelos compositores da arrecadação de direitos autorais. Outro problema que percebo é com relação a poesia que representa a capa de um disco(seja vinil ou CD) e todas as informações nela contidas como os músicos que estão tocando e outros detalhes técnicos que são de suma importância para a obra.

No entanto, acho que essa estrada está sendo trilhada e não temos como interromper a caminhada. A solução é encontrar caminhos para não esquecer dos direitos autorais, pois a obra é o bem mais precioso do compositor e também não limitarmos o acesso ás mesmas já que a música é para ser ouvida por todos.

JM: Por fim, vamos falar sobre o Festival Tudo é Jazz. Enquanto músico, o que você acha de termos no Brasil um festival deste porte, que busca dar acesso à boa música, e o que o público pode esperar do seu show?

DL: Eu acho fundamental para o universo da boa música a realização de eventos desse porte em um país tão musical como o nosso. Precisamos difundir a cultura musical ligada à boa música e precisamos conquistar ouvintes e a melhor forma é a realização de festivais onde levamos a música viva literalmente para as pessoas.

É muito importante que cada vez mais esses exemplos de Rio das Ostras e Ouro Preto sejam seguidos como já está acontecendo em alguns locais como Ibitipoca, Ipatinga, Guaramiranga e tantos outros festivais que se realizam pelo país afora. Tomara que a idéia sempre se multiplique.

O público pode esperar um show com muita energia e muita criação que são as marcas registradas do meu trabalho. Para mim é um prazer muito grande participar de um evento como esse e tenho certeza que o pau vai quebrar!!!!!!!!!

Site oficial: http://www.dudulima.com/
MySpace: http://www.myspace.com/dudulima

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Um comentário:

  1. O FESTIVAL DE OURO PRETO

    Em setembro de 2002 acontecia timidamente em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, a primeira edição do Festival de Jazz de Ouro Preto – Tudo é Jazz.

    Com a audácia dos iniciantes, que começam pequeno, e pensam grande para crescerem rápido, concebemos antes da primeira programação, o conceito do festival para definir a sua personalidade:

    1. Elaboramos um festival de mão-dupla que trouxesse a Ouro Preto músicos internacionais e proporcionasse um intercâmbio com os músicos brasileiros, levando-os para se apresentarem em outros festivais parceiros.
    Em 2007, Maria Schneider, considerada a maior compositora, arranjadora e regente mundial do jazz, foi convidada pelo festival para ser nossa “música-residente” e ensaiar e reger uma orquestra formada por 25 músicos brasileiros, a maioria de Minas Gerais.
    Em 2.009 estaremos enviando grupos mineiros pouco conhecidos do nosso público, mas de excelente qualidade, para 3 grandes festivais na Europa como convidados, num contrato de intercâmbio.
    Em 2009, o nosso “músico-residente” será Monsieur Michel Legrand que regerá uma orquestra especialmente formada por músicos brasileiros, homenageando assim o Ano da França no Brasil.

    2. Elaboramos um projeto que fosse por outro lado, compartilhado com o público através das apresentações e de oficinas ou palestras em programas específicos, oferecidos gratuitamente pelos músicos estrangeiros convidados, como contrapartida ao festival.
    Desde 2002, mais de 3.000 participantes fizeram parte destes programas, a maioria composta de jovens músicos locais. As conseqüências culturais e educativas desses encontros podem ser avaliadas no desenvolvimento profissional destes jovens. Os participantes tiveram a oportunidade de encontrar seus ídolos e, sobretudo, de se beneficiar dos seus conselhos e de suas experiências.

    3. Elaboramos um projeto com ênfase em trabalhos autorais, propostas novas e ousadas, trazendo pela primeira vez para a América Latina grupos extraordinários como o E.S.T. (Suécia), Jacob Fred Jazz Odissey, Steve Coleman and Five Elements, Bad Plus, Magic Malik, Kaki King, Galactic, Either Orchestra e muitos outros, difíceis e cerebrais, mas imprescindíveis para o desenvolvimento de uma linguagem nova no jazz.

    3. Elaboramos um projeto que proporcionasse ao público do festival um contato ao vivo com a música instrumental de qualidade, aprimorando seu senso crítico e possibilitando seu desenvolvimento sócio-artístico-cultural. Ao mesmo tempo, oferecendo qualidades técnicas as melhores possíveis para valorizar as apresentações, contratando som, luz e estrutura de palcos das melhores empresas da América do Sul, além dos melhores técnicos para oferecer conforto ambiental para a platéia.

    4. Elaboramos um projeto que trouxesse ao festival, músicos brasileiros que são mais reconhecidos fora do Brasil do que no seu país de origem. Assim trouxemos Raul de Souza num concerto memorável com o Claire Michel Group; o importantíssimo Oscar Castro-Neves, morando há mais de 40 anos fora do país; a adorada pelos críticos e público de jazz nos EUA, Luciana Souza; a aclamada pianista e cantora Eliane Elias; o não devidamente reconhecido como músico no Brasil, Ivan Lins que teve como convidado especial nada mais, nada menos que Michel Legrand!

    5. Elaboramos um projeto que buscasse desenvolver nas várias Agremiações Musicais de Ouro Preto (“Bandas de Música”) e região o gosto pela música de qualidade, proporcionando aos jovens destes grupos o contato com o jazz, a música do Sec. XXI, pela sua originalidade, pela sua evolução constante, sempre influenciada pela história, pelo que acontece agora, no momento atual, absorvendo os sentimentos dos acontecimentos e se tornando um excepcional instrumento pedagógico e cultural. A música educa e constrói o caráter do jovem. E o coloca ligado ao presente do mundo.

    6. Elaboramos um projeto que atraísse para Ouro Preto um público que tivesse carinho com a cidade, que a tratasse bem, como deve ser tratada, incrementando o turismo cultural que reflete nos resultados econômicos locais, deixando divisas e desenvolvendo a economia. Foi estimado pela Associação Comercial de Ouro Preto que financeiramente o festival de jazz é mais lucrativo para a cidade do que a Semana Santa, deixando aportes financeiros anuais de no mínimo 12 milhões de Reais na totalidade da região.

    7. Elaboramos um projeto que divulgasse e permitisse a descoberta de novos talentos em concertos gratuitos nas praças da cidade, com os músicos com seus nomes e trabalhos colocados lado a lado de músicos renomados, nas peças de divulgação do festival.
    Procuramos trazer para Ouro Preto a imprensa brasileira com jornalistas convidados e mais ainda, a estrangeira. Pela primeira vez na história, um evento de jazz brasileiro teve duas matérias elogiosas publicadas na revista “DownBeat”, a maior revista especializada em jazz do mundo e uma excelente matéria na “JazzTimes”, a segunda maior. Saindo do eixo Rio-São Paulo, pulamos para o eixo internacional.

    8. Elaboramos um projeto que homenageia as raízes do jazz reverenciando as bandas mais primitivas de New Orleans. Eles começaram, nós devemos a eles a existência do festival e fazermos parte desta história.

    Assim criamos o Festival de Jazz de Ouro Preto – Tudo é Jazz e aí estamos na sétima edição.

    Gostaríamos de agradecer, acima de tudo, a permissão que tivemos de Ouro Preto, através de seu povo, para realizar o festival na cidade. O festival pertence a Ouro Preto. É de Ouro Preto. Foi planejado, moldado, quantificado e formatado para acontecer em Ouro Preto. Não poderia existir em outro lugar. Agradecemos a acolhida!

    Agradecemos aos nossos fiéis patrocinadores que sempre entenderam nossos conceitos e nunca interferiram em nada, o que permite ao festival se tornar cada vez mais um evento estritamente cultural. Poucos no mundo respeitam um projeto como nossos patrocinadores respeitam. Somos muito felizes sendo apoiados por empresas assim, que acreditam no que fazem.

    Agradecemos ao Governo Estadual e Federal, que mesmo com mudanças em seus escalões vem nos apoiando e entendendo a importância do festival para a divulgação da imagem positiva do Brasil no mundo. A Indústria da Cultura e do Turismo são as mais limpas, e em ascendência no mundo. O festival de Ouro Preto tem o orgulho de ser considerado um projeto sustentável pelo Governo do Brasil.

    2008
    Em 2008, ousamos convidar como “músico-residente” e grande homenageado o compositor, cantor e instrumentista Milton Nascimento, considerado como um dos três maiores músicos vivos da música do Sec. XXI.
    Esta é uma das maiores emoções que o festival de Ouro Preto vem nos proporcionar. Que venha Milton, sua Praça, Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, te espera. É seu palco ideal.

    Maria Alice Martins
    Diretora do Festival

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