Considerada uma das melhores intérpretes brasileiras da atualidade, Taryn Szpilman é também conhecida por sua versatilidade e carisma no palco. Com um repertório que tem de jazz e blues ao bom e velho rock’n’roll, ela estará presente nesta edição do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival como uma promessa de muita sofisticação e swing.
Taryn concedeu uma entrevista exclusiva ao blog JazzMan, onde falou das principais influências em sua música e de seu novo cd, Bluezz, que estará sendo lançado no festival. Confira agora o bate-papo e se encante com a maturidade musical da cantora.
Colaboração: Fernanda Melonio
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JazzMan – Vamos começar com um pouco da sua história. Sabemos que você pertence à quinta geração de músicos da família Szpilman, tendo inclusive parentesco com Wladyslaw Szpilman, que foi retratado por Roman Polanski no filme "O Pianista". Gostaríamos de saber de que forma essa tradição familiar influenciou não só na sua escolha pela música como no seu repertório.
Taryn Szpilman – Acho que cada um é o produto de seu próprio meio. Somos influenciados pelo que observamos e vivemos na infância, criando assim um gosto e uma paixão pessoal. Somos influenciados também por nossos pais, avós... No meu caso, além do meu pai que é um jazzista "doente", Marcos Szpilman – colecionador, pesquisador e líder de big band – eu tive como exemplo o meu avô, Waldemar Szpilman, o primo do Wladislaw, que veio para o Brasil ainda criança e, assim como sua família, sempre viveu da música. Ele era um apaixonado pela música clássica e um excelente violinista e saxofonista. Formou com sucesso, nos anos 1940/50, uma das maiores orquestras de sua época, que tocava no Cassino da Urca, nos grandes bailes que aconteciam na cidade... Por parte de minha mãe, idem. Meu avô materno, Paulo Kern, era contra-baixista da Sinfônica, e ainda tive como "tio" um dos maiores pianistas de nossa história, que foi o Luiz Eça.
Também creio, de forma espiritual, que viemos ao mundo cumprir um determinado papel. Não escolhemos por acaso, mas sim por afinidade, a família espiritual, o meio e destino em que vamos viver. Eu tenho a música dentro das minhas veias e não vim nesta família por acaso. Cresci ouvindo e apreciando desde o bercinho o Blues, Jazz e a música negra (Stevie Wonder, Quincy Jones...) por causa dos discos que meu pai ouvia incessantemente, e o rock inglês por parte da minha mãe, que adorava os Beatles e cia...
JM – E por falar em influências, você fez (juntamente com a big band Rio Jazz Orchestra) o espetáculo "Tributo às Grandes Divas do Jazz". Quais delas você sente que mais influenciaram na sua carreira e por quê?
TS – Billie Holiday, Carmen McRae, Dinah Washington, são tantas maravilhosas... Da Billie, o que mais me influenciou foram a sua emoção, personalidade e forma única como cantava, seu timbre "bebum", a forma como realmente vivia o que cantava. Isso é a característica mais importante de um cantor, logicamente unido à técnica e afinação, que admiro muito na Ella Fitzgerald, Carmen McRae, Sarah Vaughan, Diane Schuur... O "punch" e potência vocal das cantoras soul como Aretha Franklin e Etta James... Amo também a Janis, uma cantora de Blues fantástica e única, por incrível que pareça, branca, com um timbre de características vocais sem igual... Até hoje... (Santos defeitos vocais ela tinha! Sua rouquidão excessiva, etc...).
JM – Suas interpretações para as músicas da Billie Holiday foram elogiadas no Programa do Jô. Você e a Rio Jazz fizeram um show de tributo a ela. Como foi fazer esta homenagem?
TS – Acho que deu tão certo porque foi de coração. Na música, tem que ser assim, senão não sobrevive muito (no máximo, como um relâmpago de modismo popular)...
Eu escolhi com meu pai este show temático, pois foi ela quem mais me influenciou, exatamente pelo que te descrevi anteriormente. Era única, vivia o que cantava... Seu lamento, sua divisão rítmica, seu timbre "trumpetístico" (risos), sua musicalidade... Não havia aparecido até então alguém como Billie. Ela revolucionou o canto popular.
Fazer esta homenagem foi um dos trabalhos que mais me realizaram na vida. Sentia que ela estava presente espiritualmente, e até aconteceram histórias engraçadas ao vivo, como pessoas (público) virem me falar que sabiam que ela estava ao meu lado no palco.
Na estréia, acabou a luz do teatro aonde nos apresentávamos. O Miele, que narrava a história dela, começou a chorar emocionado e acendeu seu isqueiro para iluminar a partitura do Lulu Martin, pianista da Rio Jazz, para que fizéssemos em duo, eu cantando o repertório restante sem microfone. O público adorou, até mais do que se tivéssemos com som e luz (risos)...
JM – Zeca Baleiro declarou no Estadão: "Quando a ouvi cantar, fiquei chapado. Foi uma sensação parecida que tive com o primeiro disco de Cássia Eller, por causa do desnudamento e da contundência do canto. Taryn é verdadeira demais. Há muito tempo não ouvia ninguém assim". De onde vem sua voz?
TS – Como te falei, acho que crescemos muito ouvindo / desvendando nossos ídolos e assim, com este espelhamento, vamos nos influenciando aos poucos, descobrindo nossos potenciais e então lapidamos e aprimoramos nossa própria arte. Sou um reflexo de tudo que capto destes "amores"... Procuro em mim o que adoro nestes ídolos, e vou me desenvolvendo. Gosto de estudar técnica e, principalmente, ouvir muito os detalhes de interpretação deles, pra sacar os mínimos detalhes mesmo, e ir aplicando, com personalidade e bom gosto, estes pedacinhos na minha música... Aí eu descubro quem é a cantora Taryn, a partir deste espelhamento e mergulho na técnica...
JM – Pra encerrar: Nós sabemos que seu repertório é bem versátil. O que o público do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival pode esperar do seu show?
TS – No festival, vou estar lançando o cd "Bluezz", que passeia pelas várias vertentes que este estilo (o Blues, a música que vem do lamento dos negros) gerou... No show e no CD, o público poderá desfrutar de nossas releituras para clássicos do Blues, Jazz, Soul e Classic Rock: de Billie Holiday e Ray Charles a Hendrix e Aretha Franklin, passando por Janis Joplin, Willie Dixon e Etta James... O CD foi produzido pelo meu marido, o renomado baterista Claudio Infante, com meus "pitacos" (risos)...
Então é um disco muito swingado, com muita sofisticação e peso também. Procuramos neste trabalho uma sonoridade totalmente vintage. Ele foi produzido em um estúdio todo "valvulado", o Castelo Estúdio, e nos arranjos, que tiveram o apoio do nosso talentoso guitarrista Ricardo Marins, a gente ouve esta sonoridade com guitarras do rock clássico, órgão hammond... Além da participação de instrumentistas / solistas talentosíssimos na gaita, sax, piano, metais, arranjos de coro (tem esta influência da música gospel americana também), etc...
Vamos nos apresentar ao vivo com um bandão:
Taryn: voz
Claudio Infante: bateria
Ricardo Marins: guitarra e hammond
Fernado Caneca: guitarra
Jefferson Lescowitch: contra baixo
Naipe: AC - sax tenor
George Oliveira: sax alto
Participações especiais: Jefferson Gonçalves (gaita) e Big Joe Manfra (guitarra)
O CD será lançado pelo selo Blues Time Records e o show será ele por inteiro...
Fotos:
Ouça Maybe I´m amazed (Paul McCartney), faixa do cd Bluezz. DOWNLOAD.
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Entrevista Jo Soares em Abril de 2003 part 01
Entrevista Jo Soares em Abril de 2003 part 02
Site do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival 2008
Link Quebrado? Post Sem Foto?
o post ficou belíssimo, assim como a entrevista. fiquei babona, adorei!
ResponderExcluirDeveras interessante.
ResponderExcluirGostei muito da entrevista, inclusive da faixa disponivel.
Parabens =)
Fui ao show, comprei o CD e peguei um autógrafo!
ResponderExcluir:)
Ótimo som.